Foi em Janeiro de 2004, tinha eu os meus 14 anos. O natal tinha acabado de passar, e como sempre, foi passado com a minha família. Era muito magrinha na altura, mas mesmo assim conseguia comer dois pratos cheios de comida, e andava sempre com muita sede. Entre água e sumo, bebia sempre água. Até acordava muitas vezes durante a noite para beber água. Tinha sempre uma garrafa de litro e meio de água ao meu lado, e quase que conseguia beber metade numa noite. Também acordava várias vezes para ir a casa de banho, e de dia ia vezes sem conta. Fiquei com uma ideia que o açúcar dava muita mais sede que o sal, e comecei a estranhar como é que podiam dizer que o sal dava sede. De vez em quando tinha muitas dores de cabeça, e um temperamento muito mau, andava sempre chateada, sem saber porque. Lembro-me que batia com as portas e tudo, lol.
Uma tia minha observou-me por uns tempos, porque achou muito estranho de como eu podia comer tanto, beber tanta agua e ser tão magra. Ela, como já conhecia os sintomas, desconfiou de que eu podia ter diabetes. Falou com a minha mãe sobre a preocupação dela. Ainda me lembro hoje da resposta da minha mãe, como se fosse ontem. "Estás maluca ou quê?? Não temos ninguém na família com diabetes sem ser o pai, [o meu avó] e agora ela vai ter diabetes??" Mesmo assim a minha mãe ficou a pensar no assunto, e passados poucos dias decidiu então levar-me ao centro de saúde.
No centro de saúde mandaram-me fazer um teste a urina, e disseram-me que iam tirar um bocadinho de sangue, para poder ver o açúcar que tinha na urina e no sangue. O teste a urina foi fácil, xD o pior era tirar o sangue. Nunca gostei muito de agulhas, e estava extremamente nervosa. Lembro-me que já me estavam a preparar para fazer uma pequena colheita de sangue, quando do nada entra uma enfermeira para dentro e disse que não valia a pena tirar o sangue, que me deviam de levar para o hospital urgentemente. Eu na altura não percebi porque, mas la fomos eu e a minha mãe para o hospital.
Foi tudo muito rápido. Lembro-me de estar com a minha mãe no hospital e mais enfermeiros e médicos. Não sabia o que estava a passar e ainda não tinha interiorizado que tinha diabetes. Não me lembro de tudo o que se passou no hospital, nem das coisas que me diziam. Isto porque tudo entrava num ouvido e saia no outro. Estava a leste. Quando me ponho a pensar nisto, parece que me estou a lembrar de um sonho.
Lembro-me de estar no hospital até a noite, e dos enfermeiros e médicos a falar e lembro-me de levar a minha primeira injecção de insulina. Queria que fosse um dos médicos ou enfermeiros a dar, mas tinha que ser a minha mãe. Nem eu percebi porque. Escolhi o braço para levar a injecção. Isto porque aquela injecção vazia-me lembrar de uma vacina. Meti a mão na cintura para levantar o braço para cima, como se estivesse a levar uma vacina, mas disseram-me para não fazer isso porque não era nenhuma vacina. Mas eu continuei na minha. Estava a começar a pensar que só tinha que levar isso e que tudo passava, que amanha era outro dia e que iria estar tudo normal. Ainda não tinha interiorizado que tinha diabetes. Passado um bocadinho, já podia ir para casa. Tive muita sorte em ter ido nesse dia ao centro de saúde, porque mais um dia e entrava em coma diabético. Dou graças a minha tia por isso, por ter alertado a minha mãe. Sem a minha tia, não sei o que poderia ter acontecido.
Não me lembro se foi no dia seguinte, ou não (mas de certeza que foi, lol), mas lembro-me que tive que ir a farmácia com a minha mãe buscar as coisas dos diabetes. Eu nessa altura ainda não tinha interiorizado que era diabética, e que iria ser para toda vida. Só quando eu vi o farmacêutico a entregar as caixas da insulina, e das agulhas, das lancetas, e das tiras a minha mãe é que eu percebi que ia ser para o resto da minha vida. Comecei a chorar. A minha mãe também começou a chorar. Chorei ali na farmácia a frente de toda gente, mas nem sequer reparei nas outras pessoas.
Nos dias seguintes, uma das enfermeiras vinha de vez em quando a minha casa para monitorizar-me e ter a certeza de que estava a fazer tudo bem. Ela voltou a ensinar-me tudo sobre a diabetes, aos poucos, e mostrou-me como medir os níveis. Lol, lembro-me que até do picador tinha medo na altura xD. Bem, já está quase a fazer oito anos desde que fui diagnosticada com diabetes. Não me lembro de muito mais dessa altura, mas sei que do que me lembro nunca me vou esquecer, porque esse é mesmo um dia que nunca esquecerei.
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